É importante observar que as novas tecnologias jamais substituirão o conhecimento e a experiência humana, embora seja claro que serão necessárias em casos de fraudes financeiras e de seguros.
Hoje tudo se tornou muito complexo, muito digital; passou de analógico para digital e as gangues mencionadas estão se aproveitando disso.
Não vale mais a pena ser reativo. Você tem que ser preventivo. Usando ferramentas de informática, às vezes é útil combinar várias delas. Isso ajuda a detectar um sinistro supostamente falso e até mesmo durante a contratação da apólice. As apólices de vida, os planos de pensões, são hoje altamente regulamentados pela Direção-Geral dos Seguros e pelo Ministério da Economia e Finanças da Espanha, por exemplo, para todo tema que envolva lavagem de dinheiro. Atualmente, quando certas pessoas fazem seguro de vida, com capital excessivo, sem relação com o padrão de vida que desejam contratar, as Empresas conseguem comprovar essa circunstância da melhor maneira possível, mas sempre de forma artesanal, e aqui as ferramentas de informática ajudam muito, porque permitem o acesso a arquivos públicos, pesquisas nas redes sociais, para buscar informações sobre aquele cliente e para nos dizer se tal pessoa é ou não confiável na hora de contratar aquele produto financeiro.
Ajuda muito porque se essa pessoa não for confiável, há o dever de comunicar tal fato ao Ministério da Economia e Finanças, a título de prevenção de capitais, à Sepblac (Comissão de Prevenção de Lavagem de Dinheiro e Ofensas Monetárias); a Empresa deve informar que tem um cliente em potencial que deseja contratar um produto financeiro, mas que há alguns alertas que denotam que ele não é uma pessoa confiável.
O mesmo acontece em outros ramos de negócio, com veículos, por exemplo, que desejo segurar quando tenho a abertura de um caso de sinistro e o sistema me diz: “cuidado, essa pessoa tem uma série de antecedentes que nos levam a pensar que estamos diante de uma possível fraude , e o analista entra em alerta”. Sendo mais fácil agir desde o começo ao invés de esperar que as coisas aconteçam. Então, nesse sentido, as ferramentas de tecnológica vêm para ajudar, mas nunca para substituir a pessoa. Essa também é uma crença que existe em algumas seguradoras, ou seja, de que tais ferramentas são como uma panaceia, mas a pessoa não irá poder substituí-la, pois o especialista em fraude tem que estar lá, porque frente as informações que estão sendo-lhe fornecidas, o ajudarão a tomar decisões de forma rápida, ao contrário do que acontecia alguns anos atrás, quando tinha-se que se esperar.
As ferramentas são uma ajuda muito importante, mas a pessoa tem que estar sempre presente.
Proteção de dados e fraude
No que se refere à proteção de dados, essa limitação de poder compartilhar informações é algo que limita o trabalho do investigador. Muito progresso foi feito nos últimos anos. A TIREA, uma organização espanhola que reúne inúmeras seguradoras, possui ferramentas de informática que comparam informações e, em tempo real, consegue quase na hora da abertura de um sinistro residencial ou um sinistro de veículo, saber sobre quais outras seguradoras também têm esse sinistro declarado, porém jamais há a divulgação sobre os indivíduos envolvidos. Se houver menção sobre um risco envolvendo um veículo ou uma residência, tem-se sido permitido de acordo com a Agência de Proteção de Dados da Espanha, que certas pessoas possam conversar entre si, e entre seguradoras, de modo que lhes sejam permitidas o compartilhamento dos dados do sinistro, porém não é permitido o compartilhamento de todas informações sobre o mesmo, sendo portando, tais informações muito limitadas, por conseguinte, quando há o intuito de se investigar em profundidade, torna-se muito complicado.
Em outros países europeus, a lei de proteção de dados existe, mas não é tão restritiva como na Espanha. Lá, ela pode ser compartilhada até certo ponto e então tem-se que buscar figuras jurídicas que lhe permitam investigar em conjunto essa possível fraude.
A palavra fraude não é muito popular no mundo dos seguros. Não se gosta muito dela devido `as suas conotações sociais. Mas fala-se de fraude em muitas áreas. É por isso que a primeira coisa que temos que fazer no setor de seguros é nos livrarmos desse peso e dizer que a fraude é real, existe fraude e existem pessoas boas e más. Do ponto de vista das seguradoras, há muitos que apostam no combate à fraude desde a Presidência, Direção-Geral para baixo, na qual toda a organização possa estar envolvida, tratando-se, portanto, de um mal que afeta economicamente as empresas e também na demonstração de seus resultados; quando se deixa de pagar valores expressivos, nota-se que há uma economia muito importante `as Empresas. Seguradoras que não classificam o caso como fraude, mas sim como economia, expressam-se da seguinte forma: “chegamos num acordo com o segurado, economizamos muito dinheiro, etc.”. Mas quando se trata de uma tentativa de fraude, esta deve ser classificada como tal para haver economia de dinheiro com ela. É um estigma que temos que nos livrar no setor, e denominarmos as coisas pelo seu nome, ou seja, o que é fraude é fraude, o que é acordo é acordo.
Caso emblemático
Existem muitos, mas há um que ocorreu há muitos anos, porém os sistemas de informática poderiam ter ajudado bastante na sua detecção. Um homem que vivia em Madrid juntamente com sua mãe, enganou quase 11 seguradoras ao declarar mais de 100 sinistros envolvendo assaltos na rua, bem como envolvendo louças sanitárias quebradas, cristais quebrados etc., sendo estes últimos ocorridos na casa de sua mãe. No caso dos assaltos, ele se dirigia a diferentes delegacias para que as denúncias de tais assaltos não fossem detectadas. No final, foi a seguradora que mais sofreu (havia mais de 50 ou 60 sinistros registrados) e, a partir daí, eles começaram a analisar e a questionar outras seguradoras. A UNESPA foi informada dessa situação e uma agência de detetives foi contratada. No final, foram detectadas 11 empresas afetadas, todas elas tendo pagos pelos sinistros e que conversaram entre si sobre centenas de sinistros (pequenos sinistros). A mãe não sabia o que seu filho estava fazendo, nem tampouco, que ele estava vivendo `as custas das seguradoras. Aí seria importante ter ferramentas de informática que permitissem detectar tal situação, não o sinistro número 50, mas o segundo, terceiro … e que houvesse a possibilidade de compartilhar com outras empresas sobre a conduta de tal indivíduo.